quinta-feira, 7 de maio de 2009

Carnívora


Não sou boneca de porcelana
se engana quem pensa
que minha pele alva
quer dizer timidez.
Sou avalanche
Tempestade
Redemoinho
Não sou a garotinha que pareço ser.
Sou mulher
Com cabelos negros
E alma demoníaca
Não sou qualquer nota!
Sou melodia pronta !
Não sou violão
Sou violoncelo
Sou o taful dos dias
Eclipse
Sou o norte no meio da escuridão
Não se engane!
Que eu não sou boneca de porcelana
Sou aço.
De prata
Sou uma flor
Carnívora
Que mata.


Kairo Ribeiro.

domingo, 3 de maio de 2009

Detalhes

Engraçado como os detalhes revelam as coisas. A capacidade de síntese que um momento possui...
Voltava da faculdade e olhava a estrada que já conheço tão bem, devaneava pensando que apesar de vê-la todos os dias por mais de dois anos ela sempre me parece diferente.
Hoje ela estava como gosto: fria, preguiçosa, o céu nublado, as nuvens sobre as serras. Quantas vezes não pensei em pessoas olhando-a assim? Quantas vezes não relembrei momentos e desejeo um par específico de olhos junto a mim?
Percebi que hoje não mais os desejo mais. Não penso neste, não penso naquele, não tenho em quem pensar. Tocava Adriana Calcanhoto e lembrei-me do carnaval... Tudo era tão novo e agora tudo já me parece tão distante, tão sem tom, tão sem cor...
Desci do carro para enfrentar por hoje a última parte do meu cotidiano: chegar em casa, tomar banho e dormir. E foi exatamente isso que doeu. Não haver ligações entre o banho e o sono, não suspirar quando o nome desejado surgir na tela do celular, não haver nome desejado, não dormir com o sorriso bobo de outrora e nem dormir que sabendo que sonharia com alguém.
E pra terminar, entrei no quarto e a realidade me bateu à porta: Tudo voltou a ser um zona, igual ao meu interior. As roupas jogadas na cama, no chão, na cadeira, os papéis espalhados, sandálias formando um labirinto... tudo isso reflexo das emoções desconexas da vida sem rumo, do olhar sem o brilho, das pegadas que revelam um passado e nada mais.
A minha velhice precoce me faz querer o meu casulo e eu me tranco. O meu equilíbrio é frágil e o vento lá fora já me derrubou três vezes esse verão. Cansei de brincar! Ou como diria uma amiga, eu não sei brincar. Agora só falta fechar o caderno, o estojo em forma de sapatilha e a porta do banheiro. Porém só de teimosia essa última ficará aberta, de lá o brilho da lua me espreita sem que a minha rabujice o mande embora...

My Sunshine

Meu caderno de Borrão há muito esquecido torna a sair da gaveta, e enquanto as folhas são preenchidas a imagem volta a aparecer no espelho, com foco porém aparentando sinais visíveis de cansaço. Um certo brilho que se perdeu, que ficou no tempo, nas lembranças de um passado ainda tão recente. Ficou suspenso no ar e eu ainda posso vê-lo envolto numa nuvem trêmula de fumaça. Já tentei reavê-lo, mas ele se nega, parece zombar de mim. Ninguém melhor que o brilho perdido pra saber da plenitude que se esvaiu...
E enquanto eu me equilibro em um par de sapatilhas cor-de-rosa o mundo ao meu redor volta a ser percebido como antes. A imagem, o cheiro e as tolhas negligentemente descansando por sobre as cadeiras...
And please, don't take my sunshine away!